18 fevereiro 2018 arquivado em: Blog sketchbook

acabei me desenhando alguns anos mais velha sem querer!

Eu sempre gostei de fazer retratos – me encanta a complexidade de detalhes que uma forma aparentemente simples (como o olho humano) pode ter. Mas o autorretrato sempre foi um desafio – sempre tive muita dificuldade de me desenhar; procurando aqui no blog, encontrei alguns autorretratos que fiz em momentos diferentes: esse, no meu aniversário de 2014; esse, um experimento pro antigo #ilustraday; e no abandonado canal do youtube, esse speedpainting de 2013 (!). Não consigo achar que nenhum ficou minimamente parecido comigo.

página do sketchbook digitalizada com o exercício proposto no Estúdio

De uns tempos pra cá, tenho sido muito encorajada a olhar pra dentro de mim. Esse processo de autoconhecimento, além de ter me agraciado com uma série de descobertas – boas e ruins – sobre mim mesma, acabou se refletindo nas temáticas e bloqueios que tinha com meus desenhos, e comecei a não ver mais tanto problema em me desenhar. No Estúdio, nós fizemos um exercício maravilhoso sobre autorretratos de memória, que a proposta era fazer esse desenho de si sem referência nenhuma. Acho que foi a primeira vez que realmente me senti satisfeita com essa representação.Cada um de nós acaba “se desenhando” um pouco em cada representação de rosto que faz. Em cada desenho, na verdade, mas penso que isso se revela mais nas representações de figura humana. Um ponto intrigante sobre o autorretrato é que parece que ele vai na contramão desse processo de se por inconscientemente no desenho; como se o ato de parar para lembrar dos detalhes de nós mesmos (tomada da consciência) viesse como um susto, um “peraí, o que eu tô fazendo?”. Fazer um autorretrato é se expor, e é também acabar revelando informações sobre nossos sentimentos, nossa autoestima, mensagens do nosso inconsciente – assuntos que geralmente ficam fechados em um bauzinho trancado e escondido.Cada elemento da linguagem visual vira uma chave poderosa para decodificar as mínimas mensagens: a precisão, fluidez e espessura da linha, a escolha das cores, a natureza e arranjo das formas, o tipo de preenchimento… Parar pra pensar nisso pode ser um pouco intimidador, eu acho. Mas também penso que esse bloqueio pode ter relação com o nosso preciosismo, nossa necessidade eternamente frustrada de sermos perfeitos, nosso altíssimo grau de exigência com nós mesmos, a abominação do erro, as dificuldades de abraçarmos nossos demônios.E na mesma medida, tenho pensado cada vez mais que fazer autorretratos é um ato de muita coragem (viva Frida Khalo!). É um enfrentamento a todos esses medos, é se colocar maior que todos eles, no estilo, nas cores e linhas que quiser. Mesmo que alguém diga que “não ficou parecido”, foda-se.  É a tentativa de se traduzir, se despir e se pôr à mostra, à análise, às mais variadas leituras. É um grito, ainda que trêmulo, de uma certeza: eu sou alguém na imensidão!

Fiz questão de inserir os autorretratos em ordem cronológica nesse post. Eu percebo como essas representações se “embonitaram” a cada nova execução (o exercício árduo de cultivar o amor próprio aparenta estar dando frutos!). Todos (com exceção dos feitos no exercício do Estúdio) nasceram de forma muito despretensiosa e espontânea. No sketchbook, ainda mais, me sinto muito livre para experimentar materiais e cores fora da minha zona de conforto, e acho que dá pra ver um pouco desse desprendimento da expectativa que a gente acaba criando sobre a obra finalizada, aproveitando muito mais o processo, a diversão e prazer que é o ato do desenho em si.Tenho ficado cada vez mais curiosa sobre as interferências que o autoconhecimento e seus insights fazem na minha produção artística, e queria encorajar você, que está lendo esse post, a manter um hábito de fazer autorretratos. Se você não desenha, tenta uma fotografia, arrisca uma edição de imagem, uma colagem, escreve um texto, uma melodia no violão. É muito impressionante como isso pode ser uma ferramenta de descobertas, de comunicação incrível entre você e você mesmo, que não se esgota mesmo com o passar dos anos. :~)

 

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amaram
    #Ilustraday: autorretrato
    Ilustrasunday #32 – autorretrato

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