16 setembro 2015 arquivado em: Blog
Esses dias, estava olhando as fotos marcadas comigo no instagram, e me deparei com uma releitura de uma ilustração minha. Qual não foi minha surpresa ao ver que não só fui marcada, como também a autora fez questão de deixar claro que o desenho tinha sido baseado em uma criação minha! Obrigada, Amanda!
Isso me fez lembrar que, até pouco tempo, eu tinha uma opinião muito fechada e segregacionista sobre a questão da cópia, mas hoje, vejo as coisas de uma maneira um pouco diferente. Demorou até eu descobrir o que realmente me deixava frustrada, de fato, e precisei fazer autoavaliações para entender que sim, eu também copiava (e ainda copio – a cópia como ferramenta de estudo)!
estudos das ilustrações da Malena Flores.
Acredito que o trabalho de um artista é a soma de todas as referências que ele coleta durante a vida inteira: referências musicais, de cinema, de lugares, de memórias, de sentimentos… e também de aspectos da ilustração, como o traço, a linha, a paleta de cores, o preenchimento, o movimento, e por aí vai. No longo e infinito caminho em busca do estilo próprio, é muito comum que um artista tome outros artistas de sua preferência como inspiração e base de estudos pessoais. 
E tá tudo bem em estudar o trabalho do coleguinha. Eu sempre tô estudando o traço dos artistas que me inspiram, pra analisar aquilo que preciso melhorar, o que posso incorporar no meu próprio trabalho, e aquilo com o que não me identifico mais. E nesses estudos, existe um jogo de aproximação e distanciamento de cada artista estudado.
ilustração da Blenda, baseada na obra de Jim Lee (reparem na assinatura).
Aproximação, para entender o seu processo criativo, as peculiaridades que tornam suas obras únicas, as ferramentas que utilizam, os mínimos detalhes de suas produções. E distanciamento, para ser capaz de absorver respeitosamente essas informações, deixá-las maturando em mim até que, junto com os outros estudos e com meu repertório pessoal, se tornem algo diferente daquilo que estudei. É como se acontecesse algum tipo de reação química dentro do nosso cérebro, e a informação fosse passando por várias mutações, até se transformar em algo novo. E é esse “algo novo” que vai somar no meu trabalho, que vai me fazer entender meus processos e meus objetivos dentro do desenho, e que aos poucos vai se incorporando no meu estilo próprio.
O que me deixa frustrada é quando as pessoas postam esses estudos em suas mídias, como se a ideia original fosse realmente delas, e ganham crédito por isso. Às vezes pela inocência, sim, e às vezes pela gaiatice. 
O estilo próprio é algo que está sempre em construção, e nesse processo você pode e deve estudar o trabalho de outros artistas. A soma das partes (deles e as suas) não é heterogênea, mas se transforma em um todo,  único. A cópia é uma ferramenta bacana para essa construção, mas se não existe prática, estudos e esforços diários, aquela informação não é absorvida e fica ali, pairando entre um desenho e outro, aparecendo como um retalho mal costurado no seu trabalho.
estudos do Daniel Brandão sobre o trabalho da Clarissa Paiva
Então, querido leitor, encerro essa postagem com meu posicionamento resumido sobre essa questão: Quer copiar o trabalho do colega? Copie, é importante pro seu desenvolvimento enquanto artista. Mas copie com o intuito de aprender, de se renovar enquanto profissional, de evoluir no seu trabalho (afinal de contas, o trabalho daquele artista já existe – e é dele!). Mas seja uma pessoa legal e, se você for divulgar os resultados em algum canto, cite a inspiração original. Não custa nada, seu dedo não vai cair, e é uma forma de você demonstrar humildade, reconhecimento e respeito para com o artista. Depois, pratique bastante até que aquilo que você copiou se transforme no algo novo.
Todo mundo sai ganhando. Você divulga o trabalho de um artista que você gosta, e existe a possibilidade de esse artista chegar lá na tua foto e deixar um like, quem sabe até um comentário. Quem sabe, ele pode até começar a acompanhar teu trabalho. E mais que isso, o artista vai se sentir relevante no cenário da ilustração, e motivado a continuar produzindo; e você vai sentir aquele quentinho no coração, que só sabe quem já foi reconhecido por alguém que admira <3

meus estudos sobre o trabalho da Margaux Kinhauser. Olha o comentário dela ali! <3
Fazia um tempão que queria escrever sobre isso, principalmente depois de ter lido o que a Lidy, a Bia e a Caroline Jamhour escreveram sobre o assunto (vale muito a pena ler). Um dia ainda quero ser uma pessoa menos noiada com essa questão da cópia, mas confesso que ainda sou muito apegada aos meus desenhos.

Mas enquanto esse dia não chega, queria convidar todos os meus leitores para um debate sobre essas questões. Me conta aí: qual sua opinião sobre copiar o trabalho de um ilustrador? Quem já copiou e quem já foi copiado? Vocês usam a cópia como ferramenta de aprendizado? Acham importante citar as referências? Também são apegados aos seus desenhos? Eita, que é pergunta! Let’s talk 🙂
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amaram
    Processo criativo – Flechas
    A teimosia no processo criativo

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